16 de ago. de 2009

Carta de Santa Inês à Santa Clara de Assis


Carta de Inês de Assis à Santa Clara



A sua venerável mãe e senhora em Cristo, distinta e querida senhora dona Clara, e a toda a sua comunidade. Inês, humilde e mínima serva de Cristo, prostrada a seus pés com toda submissão e devoção, deseja-lhes o que de mais doce e precioso se possa desejar no sumo Rei altíssimo.
Como a condição de todos foi feita de tal forma que nunca dá para ficar na mesma situação, quando alguém acha que está na prosperidade, então é que mergulha na adversidade. Por isso deve saber, mãe, que estou na maior tribulação e numa imensa tristeza corporal e espiritual. Estou sofrendo um peso e uma dor fora do comum e quase não consigo falar, por estar separada de você e das outras minhas irmãs, com quem pensei que, neste mundo, ia viver e morrer.

Essa tribulação já começou, mas não sei quando vai acabar. Nunca diminui, só cresce. Surgiu há pouco, mas não vai de jeito nenhum para o ocaso. Está sempre junto de mim, não quer se afastar. Eu achava que a vida e a morte deviam unir na terra as que convivem juntas no céu, que a mesma sepultura ia conter as que são da mesma natureza. Mas, pelo que estou vendo, enganei-me, estou angustiada, estou abandonada, estou atribulada por todos os lados.

Ó minhas ótimas irmãs, tenham pena de mim, por favor, chorem comigo, para não virem a sofrer algo parecido, e vejam que não há dor como a minha. Esta dor me machuca sempre, esta tristeza me tortura, este ardor não pára de queimar, por isso estou cheia de angústias por todo lado e não sei o que fazer. Ajudem-me, por favor, com suas piedosas orações, para que essa tribulação me seja tolerável e leve. Ó dulcíssima mãe e senhora, que posso dizer se já não espero rever corporalmente a vocês, minhas irmãs?

Ah! Se pudesse expressar meus pensamentos como desejo! Ah, se pudesse mostrar para vocês nesta folha a longa dor que espero e está sempre diante de mim! Minha cabeça queima por dentro, crucia-se pelo fogo inextinguível das tribulações. O coração geme lá dentro e os olhos não param de derramar rios de lágrimas. Estou toda cheia de tristeza, já quase toda consumida no espírito. Não acho consolação, por mais que busque. Concebo uma dor atrás da outra quando remôo no coração que já não tenho nenhuma esperança de ver você nem minhas irmãs.

Desta parte não há quem me console de todos os meus queridos, mas por outro lado estou muito consolada e vocês podem se congratular comigo. Pois encontrei a maior concórdia, nenhuma divisão, melhor do que poderia esperar. E todas me receberam com a maior cordialidade e alegria, e me prometeram obediência devotamente, com reverência.

Todas elas se recomendam a Deus, a vocês e à sua comunidade, e eu também lhes recomendo a mim mesma e a elas em tudo e por tudo, para que tenham solícito cuidado de mim e delas como irmãs e filhas suas. Saibam que eu e elas queremos observar todo o tempo de nossa vida inviolavelmente os seus conselhos e preceitos. Além do mais, podem saber que o senhor Papa acedeu em tudo e por tudo ao que eu disse e pedi, de acordo com a sua intenção e a minha, na questão da propriedade.

Peço que roguem ao Frei Elias que se sinta obrigado a me visitar com frequência para me consolar no Senhor.

Um comentário:

  1. Santa Ines passa por tantos sofrimentos , e atraves deles vai se santificando an vontade do Senhor.Porque quando o sofrimento vem ate nós , pedimos para ele ir embora?............A Paz do Senhor.

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